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FAZ-TE OUVIR

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era uma vez um país em que, à nascença, se herdava uma nuvem negra. grátis - e sem atrasos do estado - sem que se percebesse, havia uma ligação física entre a nuvem e o proprietário.

nuvem esta que o podia acompanhar até ele resolver falecer.

e a nuvem durava porque se alimentava das coisas impossíveis de concretizar; ‘já reparou no tamanho do país?’.

´já se deu ao trabalho de reparar no tamanho do país?’.

e, apesar de disfarçada no céu, a nuvem entrava em acção no mais pequeno detalhe, do mais pequeno habitante.

“muito caro”, “muito pouco”, “muito menos”, “muito alto”, “muito difícil”, “muito trabalhoso”. muito.

a influência da nuvem alternava entre o extremo receio e o extremo à vontade. e tudo a que se tinha direito.

especialistas independentes apontavam regularmente que a nuvem seria obra do passado.

nomeadamente, meio país ainda iletrado, agressivo, bêbado, inculto, religioso.

de nada valeu, em todo o lado surgiam vidas que não se queriam ter.

ao longo dos anos, com graus de desespero correspondentes, houve uma série de tentativas para ultrapassar esta ligação negra.

sobretudo, construir uma ligação com qualquer pessoa que pudesse aparecer ao caminho. isto é, partilhar uma nuvem, reproduzir a nuvem.

ou então, atalhando, experimentar a ingestão de venenos diversos responsáveis por sensações de céu limpo, mesmo que apenas por algumas horas.

uns mais afoitos tentavam a qualquer custo tornar-se uma espécie de empresários, donos de espaços, veículos, viagens, lucros rápidos, tudo menos olhar para cima.

outros, mais líricos por certo, chegaram à conclusão que a nuvem se desfazeria com um de dois antídotos simples: um bilhete de ida ou um megafone.

sucesso não garantido.

Por João Pedro Carvalho

07/2019