15/04 > 20/05 2022
sput&nik the window, Porto
SEMPRE SONHEI SER PINTOR DE TELAS
A vívida lembrança do momento em que compreendi o meu destino como pintor de telas ainda me acompanha. A revelação ocorreu entre o 1.º e o 4.º ano, durante uma visita de estudo ao Centre Georges Pompidou, em Paris, França. Tudo me parecia grandioso: as escadas rolantes, a arquitetura imponente, as pinturas magníficas. O mundo desdobrava-se diante de mim, despertando um deslumbramento absoluto. Cada elemento, cada detalhe me encantava. Era como se estivesse num sonho, arrebatado pela experiência como um todo, mais do que pela soma das suas partes.
A professora notou que eu e uma colega nos destacávamos dos outros alunos na forma como observávamos as obras de arte. Eu debruçava-me sobre as legendas, tentando decifrar os segredos das obras, enquanto a minha colega explorava as pinturas à sua maneira, de forma incerta. Esta distinção proporcionou-nos outro momento memorável. No dia seguinte à visita, a professora incumbiu-nos de observar e desenhar teias de aranha no jardim da escola, enquanto os outros alunos “ficavam de castigo” na sala de aula. As memórias desse episódio são fragmentadas, mas ainda guardo a sensação agradável de estar deitado na relva e rir com a minha colega.
Se esses dois dias marcaram uma das maiores revelações da minha vida, foi nesta manhã que vivi um dos meus maiores reveses na minha carreira artística. Ao nos chamar de volta e ver os nossos esboços, a professora não escondeu a sua profunda desilusão no olhar.
Desde então, tenho perseguido incansavelmente o sonho de ser pintor de telas.