Pursuit of a toxic cloud
(EN)
Thierry Ferreira’s photographic series “Pursuit of Radioactive Cloud” emerged as observation and spontaneous capture by the artist of a cloud that, along a way, stayed omnipresent. The choice to face it as a metaphor for an imminent radioactive threat, concrete and real, is due to the events that were highlighted in the news at the time that the photographic series was made, namely the radioactivity leak from nuclear plants in Japan in the aftermath of the great earthquake of March 2011, in that country.
The omnipresence of the cloud that hangs over us refers to the constant and real threat of potential dangers created by Man in the world we live in. These dangers can hit us wherever we are and at any time, regardless of the distance of their origin. This photographic series also refers to the way that news of disasters get printed in our minds, and that weigh so much that they turn into fears that haunt us. Those events seem to indicate that a part of the human species is absent-minded and/or indifferent to the dangers it creates for itself and its habitat, with a mind clouded by ambition and pretension of progress that obscures their vision of reality, leading them to build the means for their own potential destruction.
We feel tormented by our fears, by threats and dangers, real and imagined, and yet, we are the ones who pursue these dangers, we are the ones that cause them, fascinated and attracted by our own self-destruction. We chase the radioactive cloud – it is everywhere – and this series confronts us with that reality, preventing us from looking away. Prisoners of our apathy, can we ever escape the fatalism of Murphy’s Law?
Can the artist be different from the other human beings in this sense? Is he intrinsically super-human due to his condition of artist? Will he be able to chase the cloud with a different intent from that of the common mortal? On the way, in pursuit of the cloud, the artist, while capturing the cloud photographically, also travels through his mind, in an act of artistic creation parallel to the act of photographing and that translates into a reflection on his role and condition of his being, and of consequent conclusion and decision. The artist, like a martyr, then chases the cloud, risking himself to capture it definitively, to save humanity in an artistic-heroic act, thereby validating art as the means for human salvation. Art is, after all, heroism; and the artist is undoubtedly a hero. In the end, with a gesture of apparent ease (for an artist/hero) and obvious grandiosity, the hero defeats the threat, frees us from danger, comforts us with the security of knowing that the radioactive cloud is, finally, contained. We can breathe a sigh of relief, we have an artist who watches over us.
(PT)
A série fotográfica “Pursuit of Radioactive Cloud”, de monsieur Ferreira, surgiu da observação e captação espontânea de uma nuvem que, ao longo de um percurso, se mantinha omnipresente. A escolha em encará-la como uma metáfora para uma ameaça radioactiva eminente, deveu-se aos acontecimentos que, em Março de 2011, estiveram em destaque nos noticiários, nomeadamente a fuga de radioactividade de centrais nucleares no Japão, na sequência do grande terramoto.
A omnipresença desta nuvem que paira sobre nós, remete-nos para a constante e real ameaça dos potenciais perigos, criados pelo Homem. Perigos esses que nos podem atingir onde quer que estejamos, a qualquer momento, independentemente da sua origem. Esta série fotográfica remete igualmente sobre o modo como as notícias de catástrofes se imprimem na nossa mente, transformando-se em medos que nos perseguem. Estes acontecimentos parecem indiciar que, parte da espécie humana está alheia e indiferente aos perigos que cria para si própria e para o seu habitat, com a mente nublada pela ambição e pretensão de progresso, que lhe obscurece a visão da realidade, levando-a a construir meios para a sua potencial destruição.
Sentimo-nos atormentados pelos nossos medos, ameaças e perigos reais e imaginários, e, no entanto, perseguimos esses perigos, provocando-os, fascinados e atraídos pela nossa própria auto-destruição. Esta série confronta-nos com essa realidade, impedindo-nos de desviarmos o olhar. Presos à nossa apatia, poderemos alguma vez escapar ao fatalismo da Lei de Murphy?
Conseguirá o artista ser diferente dos restantes seres humanos? Será ele intrinsecamente super-humano devido à sua condição de artista? Será ele capaz de perseguir a nuvem com um intuito diferente do comum mortal? Na perseguição da nuvem, o artista, enquanto a captura fotograficamente, viaja também pela sua mente, num acto de criação artística, paralelo ao acto de fotografar, que se traduz na reflexão sobre o seu papel e condição humana. O artista e mártir, persegue então a nuvem, arriscando a sua própria vida, para a capturar definitivamente, num acto artístico-heroico, validando assim a arte como o meio para a salvação humana. A Arte é, afinal, heroísmo; e o artista é, indubitavelmente, herói. No final, com um gesto de aparente facilidade (para um artista/herói) e evidente grandiosidade, o herói derrota a ameaça, liberta-nos do perigo, conforta-nos com a segurança de sabermos que a nuvem radioactiva está, finalmente, contida. Podemos respirar de alívio: há um artista que olha por nós.